O que é Ransomware? Como funciona e como se proteger
Ataques evoluem para modelo de negócio, segmentam alvos, paralisam infraestruturas críticas, sequestram dados e provocam prejuízos na casa dos bilhões

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A paisagem das ameaças cibernéticas é dominada por uma praga particularmente lucrativa e destrutiva: o ransomware. Mais do que um malware, ele se consolidou como um modelo de negócio criminoso (Ransomware-as-a-Service - RaaS) que gera prejuízos anuais na casa de dezenas de bilhões de dólares globais. A previsão é sombria, com estimativas apontando que os custos totais para as vítimas podem ultrapassar US$ 275 bilhões anualmente até 2031, segundo um relatório da Cybersecurity Ventures. A evolução desses ataques deixou para trás a era dos sequestros aleatórios de dados, migrando para operações sofisticadas que segmentam setores estratégicos com alto poder de disrupção, como saúde, energia e o setor público.
A tática inicial de simplesmente criptografar arquivos e exigir um resgate pela chave tornou-se apenas a primeira camada de um ataque multifacetado. A prática atual, conhecida como “tripla extorsão”, adiciona camadas de pressão insuportáveis para as vítimas. Primeiro, os dados são criptografados, paralisando operações. Em seguida, os criminosos exfiltram informações sensíveis antes de criptografá-las, ameaçando vazar publicamente segredos comerciais, dados de clientes ou registros médicos se o resgate não for pago. A terceira camada envolve ameaças de ataques de Negação de Serviço (DDoS) ou, em casos de infraestrutura crítica, notificações a órgãos reguladores sobre o vazamento de dados, o que acarretaria multas milionárias. Casos emblemáticos, como o ataque ao oleoduto Colonial Pipeline nos EUA em 2021, que levou ao pagamento de US$ 4,4 milhões e causou desabastecimento de combustível, e o ataque à JBS no mesmo ano, com um resgate de US$ 11 milhões, ilustram o poder destes grupos de paralisar cadeias produtivas essenciais.
A sofisticação técnica anda de mãos dadas com a inovação empresarial do crime. As plataformas de RaaS operam como franquias, onde os desenvolvedores fornecem o malware e a infraestrutura a “afiliados” em troca de uma porcentagem dos resgates. Esse modelo democratizou o cibercrime, permitindo que criminosos com menos habilidade técnica lancem ataques de alto impacto. Grupos como o LockBit e o agora dissolvido REvil personificam essa tendência, oferecendo suporte ao cliente, dashboards e até mecanismos de avaliação de desempenho para seus afiliados. A entrada de grupos patrocinados por Estados-nação, como observado em ataques a setores estratégicos na Ucrânia e em outros países, adiciona uma camada geopolítica complexa ao problema.
Estratégias de defesa contra ransomware
Diante de um cenário de ameaças em constante evolução, as estratégias de defesa precisam ser igualmente dinâmicas — e em camadas. A base da resiliência permanece a mesma: backups regulares, automáticos e imutáveis (protegidos contra exclusão ou criptografia), armazenados offline ou em ambientes completamente isolados. A aplicação rigorosa e imediata de patches de segurança é crítica, uma vez que muitos ataques exploram vulnerabilidades conhecidas para as quais já existem correções. O princípio do privilégio mínimo deve ser rigorosamente aplicado, garantindo que usuários e sistemas tenham acesso apenas aos recursos estritamente necessários para suas funções, limitando a propagação lateral de um invasor na rede.
No entanto, as melhores práticas reativas já não são suficientes. A segurança moderna exige uma postura proativa, centrada na detecção e resposta. A implementação de soluções de Detecção e Resposta de Endpoint (EDR) e Monitoramento Contínuo de Segurança (MDR) permite identificar comportamentos anômalos e atividades suspeitas antes que se transformem em um incidente total. Paralelamente, a conscientização contínua dos usuários é a primeira linha de defesa. Programas de treinamento que simulam phishing e ensinam a identificar tentativas de engenharia social são investimentos essenciais, pois o e-mail permanece como o vetor de ataque inicial mais comum. A combinação de tecnologia robusta e uma cultura organizacional de segurança forma a barreira mais eficaz contra a epidemia do ransomware.