Logo do Google no topo de um prédio com céu azul ao fundo
Unsplash/pawel_czerwinski

Há dez anos, lançar um novo blog no WordPress significava ter seu conteúdo indexado pelo Google em questão de horas, às vezes minutos. Uma simples busca por uma frase única do seu último post trazia resultados na primeira página do Google, quase como mágica.

Naquela época, o Google parecia cumprir sua missão de “organizar as informações do mundo e torná-las universalmente acessíveis”. Para os usuários, isso significava que, se a informação existisse na web, bastava uma busca inteligente para encontrá-la. Para os criadores de conteúdo, era uma oportunidade de ouro: criar conteúdo, e o Google se encarregava de garantir que ele fosse encontrado.

Com essa oportunidade, vieram também as tentativas de exploração, como conteúdo de baixa qualidade inundando a web, compra e venda de links e diversas práticas de SEO duvidosas.

Em resposta, o Google introduziu uma série de atualizações de algoritmos, como Panda e Penguin, visando limpar o que considerava práticas de SEO manipulativas. Essa batalha se desenrolou por décadas, com o Google atualizando seus algoritmos e os especialistas em SEO adaptando suas estratégias.

Durante essa batalha, um novo mantra emergiu na indústria: O conteúdo é rei. A ideia era que bom conteúdo atrairia links naturalmente e geraria sinais positivos de interação dos usuários, melhorando o ranqueamento. No entanto, essa teoria nunca se comprovou totalmente. Muitos criadores de conteúdo de qualidade não alcançaram os rankings esperados, mostrando que qualidade sozinha não era suficiente.

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Conteúdo gerado por IA

Em 2018, a OpenAI lançou o GPT-1, mudando o cenário da criação de conteúdo. A capacidade de gerar textos indistinguíveis dos escritos por humanos apontou para o fim da era do “conteúdo é rei”.

Com a iminente possibilidade de conteúdo infinito gerado por IA, o Google enfrentou uma crise. Sua resposta foi dupla: promover o conceito vago de E-A-T (Expertise, Authoritativeness, Trustworthiness - Especialização, Autoridade, Confiabilidade) e adotar uma abordagem extremamente seletiva na indexação de conteúdo, favorecendo marcas bem estabelecidas e sites reconhecidos.

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As consequências da nova estratégia do Google

Hoje, o Google não tenta mais indexar toda a web. Em vez disso, tornou-se extremamente seletivo, recusando-se a indexar a maioria dos conteúdos. Essa mudança não é sobre os criadores não atenderem a um padrão arbitrário de qualidade, mas sim uma mudança fundamental na abordagem do Google como motor de busca.

Especialistas em SEO já observaram que o Google parece agora operar com uma base de “não indexar por padrão”. Ele só inclui conteúdo em seu índice quando percebe uma necessidade genuína. Esse julgamento é baseado em fatores como: o conteúdo é extremamente único, autoridade percebida do site e reconhecimento de marca.

Escrever sobre algo pouco explorado pode ser relevante, mas não é mais garantia de indexação. O Google parece agora exigir conteúdo genuinamente novo ou que preencha uma lacuna significativa em seu índice. Sites altamente reconhecidos em seu nicho e com mais links de qualidade tendem a ter mais conteúdo indexado, mas nem sempre é esse o caso.

Empresas consolidadas e com conteúdo gerado por usuários, como Reddit e o Quora, geralmente têm maior parte de seu conteúdo indexado, enquanto blogs novos ou sites de nicho e com conteúdo técnico enfrentam uma barreira muito mais alta agora.

Muitas vezes, novos conteúdos têm sido indexados rapidamente, mas logo depois são removidos. Isso significa que ser inicialmente indexado não garante que o Google considere seu conteúdo valioso.

Curiosamente, quando um conteúdo supera a barreira da indexação, sua classificação tende a ser boa. A dificuldade está em transpor esse obstáculo inicial, que se tornou exponencialmente mais complexo.

O Google transformou-se de um motor de busca abrangente em algo mais próximo de um catálogo de exclusividade. Para os usuários, isso significa que a informação que procuram pode existir, mas não ser descoberta pelo Google. Para os criadores de conteúdo, o desafio é como obter visibilidade se o Google se recusa a indexar a maior parte do seu conteúdo.