Linux 6.18 traz avanço significativo contra ataques DDoS em servidores
Otimizações no kernel aumentam em 47% a capacidade de processamento sob ataques UDP massivos

A próxima versão do kernel Linux, a 6.18, trará uma melhoria significativa para servidores que enfrentam ataques de Negação Distribuída de Serviço (DDoS). Um conjunto de patches, desenvolvido pelo engenheiro do Google Eric Dumazet e já integrado à ramificação principal, otimiza drasticamente o desempenho do protocolo UDP sob estresse extremo. O UDP é frequentemente explorado em ataques de amplificação e inundação devido à sua natureza sem conexão, sobrecarregando os recursos do servidor e causando indisponibilidade. As inovações focam em reduzir gargalos de concorrência e falsos compartilhamentos de cache entre os núcleos de processamento (CPUs), problemas que limitavam a capacidade do sistema de lidar com volumes massivos de pacotes.
Os resultados dos testes de desempenho são expressivos. Dumazet relatou um aumento de 47% na taxa de transferência (throughput) em cenários de ataque DDoS utilizando pacotes IPv6 com payload de 120 bytes. Em um servidor equipado com um processador Intel Xeon 6985P-C de 16 núcleos e 6 nós NUMA, a mudança permitiu processar adicionalmente 14,2 milhões de pacotes por segundo durante o ataque. Embora a contagem de erros de recepção (Udp6InErrors) tenha aumentado – indicando que o sistema está descartando ativamente pacotes maliciosos de forma mais eficiente –, o socket alvo do ataque conseguiu receber 11% mais pacotes legítimos, demonstrando uma resiliência muito superior.
As otimizações introduzidas são profundas e envolvem uma reestruturação de componentes críticos da pilha de rede. A série de patches implementa uma estratégia multifacetada. Uma das mudanças mais relevantes foi a substituição do busylock
, um mecanismo de bloqueio global que protegia sockets UDP, por filas intermediárias sem bloqueio (lockless). Esse lock global forçava que múltiplas CPUs ficassem em estado de espera disputando o acesso, um processo que consumia ciclos de processamento preciosos e levava ao descarte de pacotes pela placa de rede (NIC) ou no backlog da CPU.
Com a nova abordagem, cada nó NUMA do servidor ganha sua própria fila lockless. Agora, a maioria dos núcleos de processamento pode descartar pacotes indesejados imediatamente ou enfileirá-los em sua fila NUMA local sem necessidade de travar o sistema. Posteriormente, uma CPU é eleita para processar cada uma dessas filas em lote, minimizando a contenção e melhorando a localidade dos dados. Outras melhorias incluem o redimensionamento de estruturas de dados como struct ipv6_pinfo
para reduzir falhas de cache, e otimizações na forma como a memória de recepção do socket (sk_rmem_alloc
) é acessada, reduzindo ainda mais a contenção.
Impacto de longo prazo no kernel LTS
O timing da inclusão dessas melhorias no Linux 6.18 é estrategicamente importante. Esta versão do kernel é a forte candidata a se tornar o Kernel de Suporte de Longo Prazo (LTS) para 2024. Os kernels LTS são adotados massivamente em distribuições empresariais e ambientes de servidor em produção, onde estabilidade e segurança são primordiais. Isso significa que as otimizações de desempenho e resiliência contra DDoS desenvolvidas pelo Google não ficarão restritas a versões de ponta, mas se tornarão a base para milhões de sistemas críticos ao redor do mundo pelos próximos anos.
A adoção em larga escala de um kernel com essas características representa um avanço coletivo na infraestrutura da internet. Servidores de cloud, plataformas de streaming, serviços online e infraestruturas de rede que dependem do protocolo UDP para operações legítimas terão uma defesa nativa mais robusta. A mudança não elimina a necessidade de soluções de mitigação de DDoS em camadas superiores, como firewalls e sistemas de proteção especializados, mas fortalece significativamente a primeira linha de defesa no próprio sistema operacional.