iPhone mostrando o ícone do YouTube
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O YouTube está intensificando a guerra contra o uso de aplicativos de terceiros com bloqueadores de anúncios. No final de 2023, a empresa já havia começado a barrar essas ferramentas na versão desktop. Usuários com ad blockers ativados se deparavam com um pop-up insistente pedindo para desabilitar o recurso para assistir ao conteúdo. Caso não o fizessem, o site bloqueava o carregamento dos vídeos, tornando o bloqueador de anúncios ineficaz.

Essa estratégia, embora bem-sucedida no desktop, teve pouco impacto em dispositivos móveis. Aplicativos de terceiros com bloqueadores de anúncios integrados ainda permitiam assistir a vídeos sem problemas. Mas essa brecha está se fechando.

Na última segunda-feira (15), o YouTube publicou um comunicado delineando regras mais rígidas para apps de terceiros. A partir de agora, a plataforma afirma que usuários assistindo vídeos por meio desses aplicativos podem enfrentar buffering (carregamento lento) ou a mensagem de erro “O seguinte conteúdo não está disponível neste aplicativo”.

Além disso, o YouTube declara que só permitirá o uso de sua API por aplicativos que sigam os Termos de Serviço do API Services. Ao descobrir que um app viola essas regras, a plataforma tomará “medidas apropriadas para proteger a plataforma, criadores e espectadores”.

É compreensível a posição do YouTube. A exibição de anúncios integra a plataforma desde 2007. A publicidade compõe a maior parte da renda do YouTube, então é natural que a empresa seja sensível àqueles que tentam contornar esse sistema.

Porém, é preciso levar em conta a cultura da internet. Muitos usuários optam por navegar com bloqueadores de anúncios, principalmente devido ao abuso por parte de alguns sites que bombardeiam os visitantes com propagandas intrusivas e rastreadores.

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De acordo com uma pesquisa realizada pela Statista, em 2022, 35.7% dos internautas utilizam bloqueadores de anúncios globalmente. Esse número é maior em países como China, Indonésia e Vietnã, ultrapassando os 40%. No Brasil, 32,2% dos usuários de internet usam algum tipo de bloqueador de anúncios.

O YouTube argumenta que os bloqueadores de anúncios prejudicam a comunidade de criadores, que dependem da receita publicitária para se manter. A plataforma oferece o YouTube Premium (R$ 24,90 no plano Individual e R$ 41,90, no Família) como solução oficial para quem deseja assistir a vídeos sem anúncios. No entanto, essa alternativa paga pode não ser financeiramente viável para todos os usuários.

No começo de 2024, de acordo com um estudo da DataReportal, o YouTube tinha 144 milhões de usuários ativos no Brasil (2 milhões a mais que no ano anterior). No entanto, a publicidade na plataforma só atingiu 76,6% no número total de usuários – porcentagem similar à de 2023. Não há dados públicos de quantas pessoas assinam o YouTube Premium no Brasil.

E agora?

Para aplicativos de terceiros que desejam continuar oferecendo um cliente completo do YouTube e utilizar a API da plataforma, as opções parecem limitadas. Provavelmente terão que remover o bloqueio de anúncios de suas funcionalidades.

Uma exceção aparente é a AdGuard. A empresa alega estar isenta dessa restrição, pois seu aplicativo não utiliza a API do YouTube. Por enquanto, o aplicativo da AdGuard para iOS e Android deve permitir que você navegue sem ser afetado por essa mudança.

Veja também: Como configurar o DNS do AdGuard no roteador e melhorar a privacidade do seu WiFi

Hostilidade contra ad blockers

Ao longo da história da internet, os usuários sempre buscaram maneiras de contornar o pagamento por serviços e bloquear publicidade online. No entanto, a internet da década de 2020 parece focar em hostilidade contra ad blockers e direcionar os usuários para um modelo de assinatura, como é o caso de serviços de streaming como Netflix e Disney+. Assim como essas plataformas impedem o compartilhamento de contas, o YouTube tenta coibir o uso de bloqueadores de anúncios.

Resta saber se a estratégia do YouTube será bem-sucedida em erradicar o uso de bloqueadores de anúncios em sua plataforma. É possível que os usuários migrem para aplicativos de terceiros mais resistentes ou busquem soluções alternativas para contornar as restrições. A guerra entre a plataforma de vídeos e os bloqueadores de anúncios promete novos capítulos.