Homem usando a função Recall do Windows para rever histórico de páginas acessadas
Microsoft/Reprodução
Simulação do Recall sendo usando para rever histórico de atividades
 

A Microsoft anunciou em um evento da conferência Build, nesta segunda-feira (20), a função Recall, um novo recurso de inteligência artificial (IA) para PCs Copilot+ com Windows que promete ser uma ferramenta poderosa para pesquisar e recuperar atividades passadas no computador, como numa linha do tempo. No entanto, o recurso esconde um sistema de vigilância digital que levanta sérias preocupações com relação à segurança e privacidade do usuário.

O Recall funciona capturando imagens da sua tela a com um intervalo de poucos segundos, armazenando um registro detalhado de todas as suas atividades no computador. Isso inclui tudo, desde a abertura de aplicativos e a navegação na web até a participação em reuniões online, vídeos assistidos e a digitação de senhas. Basicamente, o mesmo que um spyware faz.

Embora a Microsoft afirme que os dados são armazenados localmente no PC e criptografados, o fato de que a empresa mantém um registro tão completo de suas atividades é extremamente preocupante. A maior preocupação reside na possibilidade de acesso indevido a essas informações. Mesmo com robustos sistemas de segurança, a possibilidade de falhas nunca pode ser completamente descartada.

Se alguém com acesso à sua conta do Windows obtiver acesso ao Recall, poderá visualizar tudo o que você fez no seu PC, desde atividades corriqueiras até informações confidenciais como senhas e dados bancários, incluindo saldo e movimentações. As implicações para a privacidade individual e a segurança digital são graves, especialmente para jornalistas, ativistas e dissidentes que podem ser alvos de vigilância do Estado.

Falta de controle sobre seus dados

O Recall oferece um controle limitado sobre seus dados. Os usuários podem pausar, interromper ou excluir o conteúdo capturado e podem excluir aplicativos ou sites específicos. O Recall não tirará snapshots de sessões de navegação privada no Microsoft Edge ou de conteúdo protegido por DRM, como streamings na Netflix. No entanto, o Recall não ocultará ativamente informações confidenciais e não há garantias de que a Microsoft, no futuro, não armazene ou utilize esses dados para outros fins, como publicidade direcionada ou análise de comportamento.

A Microsoft já havia explorado anteriormente uma funcionalidade semelhante com o recurso Linha do Tempo no Windows 10, que foi descontinuado em 2021. O Recall também compartilha semelhanças com o Rewind, um aplicativo de terceiros para Mac que registra atividades do usuário para reprodução posterior. Ambos os recursos levantaram preocupações semelhantes sobre privacidade e segurança.

Para usar o Recall, os usuários precisarão comprar um dos novos PCs Copilot+ equipados com chips Snapdragon X Elite da Qualcomm, que incluem a unidade de processamento neural (NPU) capaz de analisar os dados localmente, sem precisar enviar para a nuvem. Além disso, existem requisitos mínimos de armazenamento para executar o Recall, com no mínimo 256 GB de espaço no disco rígido e 25 GB de espaço dedicado – que pode armazenar aproximadamente três meses de snapshots. Ou seja, a Microsoft está disposta a cobrar dos usuários para que eles abram mão da sua privacidade.

Ainda em desenvolvimento

A Microsoft afirma que o Recall ainda está em fase de teste e que a empresa coletará feedback dos clientes para melhorar a experiência e desenvolver mais controles de segurança. No entanto, a empresa não se comprometeu a abordar as preocupações fundamentais sobre privacidade e o potencial de abuso do Recall.

A ferramenta representa um passo preocupante na direção de um futuro onde a Microsoft tem acesso irrestrito à nossa vida digital. A empresa precisa ser transparente sobre como os dados do Recall serão usados, fornecer aos usuários mais controle sobre suas informações e garantir que a segurança e a privacidade sejam prioridades absolutas.